Prefácio
No início de tudo, o Deus-Pai criou uma bela criatura para ser o seu braço direito... o primeiro filho, o querubim — tão perfeito que possuía doze asas e comandava o coro celeste cantando glórias a Ele. Seu primeiro nome foi Lúcifer, que significa, aquele que porta a luz.
Sua bondade parecia ser infinita... tanto que se ofereceu ao Criador para vir até a Terra orientar os seres humanos em Seu nome e glória. Mas com o tempo, passou a testar a humanidade por puro prazer... por puro despeito. E possuído pelo orgulho, declarou guerra para usurpar o Trono de Deus, todavia, falhara totalmente em seu golpe e foi julgado por alta traição, passando-se a ser denominado Satanás: o adversário. Não havia mais espaço para ele no paraíso, então, foi expulso junto de 1/3 dos anjos para um lugar vazio, onde, dominado pela fúria, rasgou sua bela aparência e se tornou um grande monstro, vermelho, de sete cabeças, sete diademas e dez chifres. O ódio que emanou de seu corpo espalhou-se por todo aquele plano, queimando e desfigurando todos os que caíram.
Milênios à frente, o inimigo viu uma chance para tentar derrotar o Criador, e foi quando Jesus se fez carne... porém outra vez fracassara, pois Cristo o derrotara na crucificação com sua morte e ressurreição. Tal fato o deixara fraco, e sem o seu grande poder, facilitou para que o arcanjo Mikael e seu exército de elohins, colocassem um fim na rebelião. Ele foi trancafiado numa prisão.
Hoje, Satanás afronta Deus através da humanidade, afligindo e instigando os humanos ao erro. Contudo, indubitavelmente, seus dias estão contados...
Sua bondade parecia ser infinita... tanto que se ofereceu ao Criador para vir até a Terra orientar os seres humanos em Seu nome e glória. Mas com o tempo, passou a testar a humanidade por puro prazer... por puro despeito. E possuído pelo orgulho, declarou guerra para usurpar o Trono de Deus, todavia, falhara totalmente em seu golpe e foi julgado por alta traição, passando-se a ser denominado Satanás: o adversário. Não havia mais espaço para ele no paraíso, então, foi expulso junto de 1/3 dos anjos para um lugar vazio, onde, dominado pela fúria, rasgou sua bela aparência e se tornou um grande monstro, vermelho, de sete cabeças, sete diademas e dez chifres. O ódio que emanou de seu corpo espalhou-se por todo aquele plano, queimando e desfigurando todos os que caíram.
Milênios à frente, o inimigo viu uma chance para tentar derrotar o Criador, e foi quando Jesus se fez carne... porém outra vez fracassara, pois Cristo o derrotara na crucificação com sua morte e ressurreição. Tal fato o deixara fraco, e sem o seu grande poder, facilitou para que o arcanjo Mikael e seu exército de elohins, colocassem um fim na rebelião. Ele foi trancafiado numa prisão.
Hoje, Satanás afronta Deus através da humanidade, afligindo e instigando os humanos ao erro. Contudo, indubitavelmente, seus dias estão contados...
Capítulo 1
Angelu Secretum
Espanha, 01 de Março de 2009.
Numa região cercada por mato, obscura e desértica, observa-se uma fábrica abandonada em estado deplorável, com vidraças quebradas e empoeiradas, o teto tendo partes com telhas e outras não, isso sem contar a oxidação da estrutura metálica que passa a ideia de que possa vir a desabar a qualquer momento. A propriedade é cercada por muros altos e tem um portão velho de madeira que há pregado uma placa em aço com a seguinte escrita: “Interditado”, mas isto não impede de seis homens a entrarem no local. Eles camuflam suas identidades com toucas ninjas e roupas negras. Todos portam pistolas 9 mm na cintura, sendo dois, a terem em mãos, uma metralhadora.
Os elementos adentram a fábrica como sombras.
Por dentro, há vários aparelhos industrias enferrujados. O chão de piso encardido está deteriorando-se, enquanto as paredes, por conta da infiltração, estão mofadas. A única iluminação do ambiente é a luz suave do sol.
Os seis elementos caminham em direção a um furgão azul marinho opaco, onde, há um sétimo homem encostado e de braços cruzados, apenas os observando. Ele é branco, tem cabelo preto, liso e curto, barba por fazer e, possui olhos estranhos, pois sua íris é completamente negra, assim como a noite. Sua vestimenta é uma calça, camisa, sapatos e sobretudo, tudo na cor preta.
O estranho é que ninguém lhe dirige a palavra.
Um dos sujeitos abre a porta de trás do furgão, enquanto outros dois sobem na traseira, e com vozes alteradas, gritam com o restante do grupo, os apressando. Eles estão carregando um peso — uma bolsa grande de viagem que é posta cuidadosamente no interior do veículo.
Os seis elementos se encontram dentro do furgão, já o sétimo homem, agora está encostado à parede e mantém-se de braços cruzados. Ele abaixa a cabeça, fecha os olhos e sorri de canto de boca... pérfido.
O veículo é ligado e sai da fábrica, segue por uma estreita passagem de terra, e depois, por uma viela. Ao chegar numa estrada de asfalto, o motorista pisa no acelerador.
Minutos se passam, e no teto do furgão surgi o sétimo homem como mágica, que com uma expressão maliciosa, se fixa agachado. O vento esvoaça seu sobretudo, e num piscar de olhos, vemos se transformar num par de asas de anjo, mas com um detalhe diferente, elas são negras. Tal fato nos revela se tratar de um caído*.
Madrid, Museu Arqueológico Nacional.
Na entrada, existe uma grande movimentação de pessoas, no entanto, destacamos um jovial e pequeno grupo de cinco estudantes, sendo três garotas e dois rapazes. As caracteristicas são: um moreno, um pardo, uma ruiva, uma loira e uma negra de beleza africana, ISES. Ela demonstra inquietude, pois não para de checar a hora em seu relógio de pulso.
À frente do museu, há diversos automóveis estacionados, incluindo, aparentemente vazio, o furgão azul marinho opaco.
No alto do edifício, onde se encontra o mastro da bandeira espanhola, avista-se de pé na mureta, um belo anjo. Ele é jovem, branco, tem o cabelo totalmente loiro e liso na altura dos ombros, olhos azuis-violeta e barba por fazer. Suas asas, que estão dobradas, são brancas com tom sobre tons em cinza claro. O ser está descalço e veste uma calça cinza escura.
No teto do furgão, aparece o caído de pé. Ele abre suas asas e encara o anjo com raiva, nos deixando explicito o conflito espiritual.
Enquanto isso, os jovens estão numa conversa muito animada, exceto Ises, que se cansa de esperar por algo ou alguém e se senta no segundo degrau da escada, abaixo duma esfinge — ao lado esquerdo. A garota abre sua mochila, e entre um livro grosso de capa preta e uma agenda, ela retira um caderno e um estojo de canetas. Concentradamente, a menina começa a fazer anotações.
Porém, o caído altera sua expressão e esboça um sorriso traiçoeiro. Ao fazê-lo, o ser desaparece.
Em seu interior, o anjo sente uma força negativa, e de semblante tenso, se joga no ar e abre suas asas que tem a envergadura de 4 metros — é uma linda criatura. Mas, neste culmino momento, o furgão explode e destrói uma grande parte do lado direito do museu. O estrondoso barulho ecoa por vários quarteirões.
Contudo, da mochila de Ises, cai no chão, o livro grosso de capa preta, nos revelando ser a Bíblia Sagrada, que estranhamente abre-se em Apocalipse — nem o vento se atreve a mover desta página.
Lapônia, Finlândia, 03 de Março de 2009.
Num céu nublado e com um pouco de cerração, ouve-se o som das hélices de um helicóptero, se mostrando em segundos, pertencer ao exército.
A aeronave pousa num campo de grama verde, que, em sua maior parte, está tomado pela neve. E antes que o motor fosse desligado, a porta do helicóptero é aberta — assim vemos descer e encostar-se à neve, um par de botas pretas impermeáveis de inverno. Aos poucos, vamos avistando a pessoa, que está de calça térmica, casaco com forro de pena de ganso e luvas, tudo sendo preto. Por último, temos o rosto de uma bela mulher de 37 anos, pele branca, nariz de traços finos, lábios rosados e olhos verdes num tom bem claro, quase que transparentes, iguais as águas cristalinas de uma parte esverdeada do oceano. O seu cabelo, que está sob um gorro de lã branco, é liso e castanho-cobre, um pouco abaixo dos ombros.
Ao lado desta mulher, chegam dois homens altos e de físico largo. Eles também trajam roupas de frio.
— Lady Parker, o trator já está esquematizado — diz um dos homens sério, colocando um rádio na cintura.
— Então vamos. Não posso perder mais tempo — afirma a mulher que anda de postura imponente.
Parada mais à frente, há uma Mercedes preta quatro portas que possui correntes nas rodas, isso para evitar o derrape dos pneus no gelo. Já o motorista vendo Lady Parker se aproximar, abre a porta de trás para que ela entre. O carro sai.
Os dois homens a seguem em outro veículo.
Vinte minutos se passam, a Mercedes e o outro carro estacionam ao lado de uma linda e modesta capela construída toda em tijolos vermelhos, telhado cinza e tendo três pares de janelas com vidros coloridos. Próximo dali, há um lago congelado e muitas árvores.
Após o motorista abrir a porta para Lady Parker sair, ela, com um olhar sério, caminha sobre a neve a passos firmes, indo para trás da capela, onde vê o trator e cerca de vinte homens, alguns estando muito bem armados.
Lady Parker sem dirigir a palavra a mais ninguém, se aproxima de uma lindíssima estátua esculpida em mármore branco de 3 metros, que tem formas delicadas do que aparenta ser uma mulher, mas trata-se de um anjo. A escultura está de pé e tem como vestimenta uma toga. Suas mãos se encontram unidas por um toque de palmas, servindo de recosto para o seu rosto piedoso. Já a forma do cabelo é ondulado e está semi preso. Por último, as grandes asas estão fechadas.
Sob o monumento, há um pedestal também em mármore, só que cinza. Ele mede 1m 30 cm de altura, por 50 cm de largura, e nele possui uma placa em bronze com o seguinte nome em latim: “Angelu Secretum”, ou traduzindo, “Anjo Secreto”, seguido da frase também em latim, “Prudens in loquendo est tardus.”, que significa, “Bom saber é o calar, até ser tempo de falar”.
Com a mão direita, Lady Parker toca delicadamente no pedestal como se fosse uma relíquia inestimada. Tal ato deixa explícita em sua face um discretíssimo sorriso — um semblante de personalidade duvidosa, envolto por um olhar de mistério que se fixa num pensamento... o desejo.
Então a dama franzi as sobrancelhas, começa a dar passos para trás, e sem delongas, dá a ordem: — Destruam-na.
Um dos homens que está mais próximo da Lady, comunica-se pelo rádio com o rapaz do trator, que o liga. A enorme máquina segue e atinge a estátua, tombando-a. Na sequência, o mesmo acontece com o pedestal.
Vários operários, com marretas em mãos, iniciam a destruição, mas é por dentro do pedestal que há um segredo guardado.
Aos olhos curiosos dos trabalhadores, observa-se uma urna de prata de 1m de altura, por 30 cm de largura surgir.
Os operários se afastam para que Lady Parker se aproxime. Ela se agacha perante a urna e destrava as duas trincas, ao mesmo tempo, escuta-se o estalar das travas. Sutilmente, a tampa se ergue, que para a nossa total surpresa, é um esqueleto de aparência humana, só que desmontado. Em seguida, a dama fecha a urna, e ao ficar de pé, se vira para os homens e diz: — Carreguem-na.
Após a ordem, a misteriosa mulher retorna para a Mercedes com sua postura imponente.
Londres, Inglaterra, 14 de Abril de 2009.
Em Exhibition Road, Kensington, à frente do Museu de História Natural, acontece uma grande manifestação — pessoas protestam por não poderem adentrar ao edifício, pois são impedidas por uma barricada de seguranças mal encarados e fortemente armados. Mas não é tudo, há uma aglomeração de religiosos extremistas que gritam: — IT IS THE END OF THE WORLD! IT IS THE END OF THE WORLD! (É o fim do mundo!). Eles seguram placas e faixas mencionando trechos da Bíblia, sendo mais específico, do livro do Apocalipse. Podemos ver também gente ajoelhada rezando para si e outras que rezam em voz alta, tumultuando ainda mais o ambiente, tornando-o muito tenso.
No céu, um helicóptero policial faz o patrulhamento da área, e no telhado do museu, se veem vários atiradores de elite com a mira voltada para a multidão. Mas não para por ai, os olhos do mundo estão voltados para esta localidade através das equipes de reportagens que acampam e registram tudo.
Em meio ao holocausto, observa-se cair um jornal das mãos de um senhor de idade, onde na primeira página há uma reportagem com Lady Parker tendo o seguinte título: “Eles estão entre nós ou não?”, e antes mesmo que o vento pudesse carregar o papel, pneus de um Audi RS6 Sedan preto, quatro portas, passam por cima da matéria.
O automóvel se locomove devagar, cerca de 30 km/h, por conta das diversas pessoas, que histéricas, tentam impedir a passagem do Audi. Porém, os seguranças entram em ação tentando conter a população com tiros de bala de borracha, só que um manifestante mais ousado, se joga à frente do capô, e esse, apanha com cacetete.
O carro para na entrada principal do museu. O motorista abre a porta de trás e quem vemos sair, com uma expressão impassiva, é Lady Parker. Ela veste uma saia social preta até o joelho, blusa de seda social lilás e sapatos de salto fino preto. Em seu pulso direito, há um grande bracelete prateado. Escoltando-na, os seguranças abrem caminho contra as pessoas na escadaria e a misteriosa mulher sobe a passos rápidos.
De dentro do museu sai a antropóloga forense, Dra. ANGELICA THOMPSON WILLIAMS, 40 anos, branca, cabelo loiro e liso preso em rabo-de-cavalo e olhos azul-mar. Ela veste calça social, blusa social de seda e sandálias de salto, tudo na cor preta. E também está de jaleco branca, que tem preso, a altura do peito, um crachá de identificação.
Lady Parker e Angelica se abraçam como velhas conhecidas que são, no entanto, mal conseguem esboçar um sorriso. As duas adentram ao museu para fugir do assédio do público e da mídia.
Receosa, Lady Parker pergunta: — Angelica, e o esqueleto?
A antropóloga com descrença no olhar, responde: — Quando você me disse achei que estava ficando louca... mas tenho que admitir, ele possui asas.
*Caído: Termo utilizado para definir anjos que foram expulsos do Céu.
Continua…
Todos os direitos reservado a Ludmila Dias e Rafael Bento.
Numa região cercada por mato, obscura e desértica, observa-se uma fábrica abandonada em estado deplorável, com vidraças quebradas e empoeiradas, o teto tendo partes com telhas e outras não, isso sem contar a oxidação da estrutura metálica que passa a ideia de que possa vir a desabar a qualquer momento. A propriedade é cercada por muros altos e tem um portão velho de madeira que há pregado uma placa em aço com a seguinte escrita: “Interditado”, mas isto não impede de seis homens a entrarem no local. Eles camuflam suas identidades com toucas ninjas e roupas negras. Todos portam pistolas 9 mm na cintura, sendo dois, a terem em mãos, uma metralhadora.
Os elementos adentram a fábrica como sombras.
Por dentro, há vários aparelhos industrias enferrujados. O chão de piso encardido está deteriorando-se, enquanto as paredes, por conta da infiltração, estão mofadas. A única iluminação do ambiente é a luz suave do sol.
Os seis elementos caminham em direção a um furgão azul marinho opaco, onde, há um sétimo homem encostado e de braços cruzados, apenas os observando. Ele é branco, tem cabelo preto, liso e curto, barba por fazer e, possui olhos estranhos, pois sua íris é completamente negra, assim como a noite. Sua vestimenta é uma calça, camisa, sapatos e sobretudo, tudo na cor preta.
O estranho é que ninguém lhe dirige a palavra.
Um dos sujeitos abre a porta de trás do furgão, enquanto outros dois sobem na traseira, e com vozes alteradas, gritam com o restante do grupo, os apressando. Eles estão carregando um peso — uma bolsa grande de viagem que é posta cuidadosamente no interior do veículo.
Os seis elementos se encontram dentro do furgão, já o sétimo homem, agora está encostado à parede e mantém-se de braços cruzados. Ele abaixa a cabeça, fecha os olhos e sorri de canto de boca... pérfido.
O veículo é ligado e sai da fábrica, segue por uma estreita passagem de terra, e depois, por uma viela. Ao chegar numa estrada de asfalto, o motorista pisa no acelerador.
Minutos se passam, e no teto do furgão surgi o sétimo homem como mágica, que com uma expressão maliciosa, se fixa agachado. O vento esvoaça seu sobretudo, e num piscar de olhos, vemos se transformar num par de asas de anjo, mas com um detalhe diferente, elas são negras. Tal fato nos revela se tratar de um caído*.
Madrid, Museu Arqueológico Nacional.
Na entrada, existe uma grande movimentação de pessoas, no entanto, destacamos um jovial e pequeno grupo de cinco estudantes, sendo três garotas e dois rapazes. As caracteristicas são: um moreno, um pardo, uma ruiva, uma loira e uma negra de beleza africana, ISES. Ela demonstra inquietude, pois não para de checar a hora em seu relógio de pulso.
À frente do museu, há diversos automóveis estacionados, incluindo, aparentemente vazio, o furgão azul marinho opaco.
No alto do edifício, onde se encontra o mastro da bandeira espanhola, avista-se de pé na mureta, um belo anjo. Ele é jovem, branco, tem o cabelo totalmente loiro e liso na altura dos ombros, olhos azuis-violeta e barba por fazer. Suas asas, que estão dobradas, são brancas com tom sobre tons em cinza claro. O ser está descalço e veste uma calça cinza escura.
No teto do furgão, aparece o caído de pé. Ele abre suas asas e encara o anjo com raiva, nos deixando explicito o conflito espiritual.
Enquanto isso, os jovens estão numa conversa muito animada, exceto Ises, que se cansa de esperar por algo ou alguém e se senta no segundo degrau da escada, abaixo duma esfinge — ao lado esquerdo. A garota abre sua mochila, e entre um livro grosso de capa preta e uma agenda, ela retira um caderno e um estojo de canetas. Concentradamente, a menina começa a fazer anotações.
Porém, o caído altera sua expressão e esboça um sorriso traiçoeiro. Ao fazê-lo, o ser desaparece.
Em seu interior, o anjo sente uma força negativa, e de semblante tenso, se joga no ar e abre suas asas que tem a envergadura de 4 metros — é uma linda criatura. Mas, neste culmino momento, o furgão explode e destrói uma grande parte do lado direito do museu. O estrondoso barulho ecoa por vários quarteirões.
Contudo, da mochila de Ises, cai no chão, o livro grosso de capa preta, nos revelando ser a Bíblia Sagrada, que estranhamente abre-se em Apocalipse — nem o vento se atreve a mover desta página.
Lapônia, Finlândia, 03 de Março de 2009.
Num céu nublado e com um pouco de cerração, ouve-se o som das hélices de um helicóptero, se mostrando em segundos, pertencer ao exército.
A aeronave pousa num campo de grama verde, que, em sua maior parte, está tomado pela neve. E antes que o motor fosse desligado, a porta do helicóptero é aberta — assim vemos descer e encostar-se à neve, um par de botas pretas impermeáveis de inverno. Aos poucos, vamos avistando a pessoa, que está de calça térmica, casaco com forro de pena de ganso e luvas, tudo sendo preto. Por último, temos o rosto de uma bela mulher de 37 anos, pele branca, nariz de traços finos, lábios rosados e olhos verdes num tom bem claro, quase que transparentes, iguais as águas cristalinas de uma parte esverdeada do oceano. O seu cabelo, que está sob um gorro de lã branco, é liso e castanho-cobre, um pouco abaixo dos ombros.
Ao lado desta mulher, chegam dois homens altos e de físico largo. Eles também trajam roupas de frio.
— Lady Parker, o trator já está esquematizado — diz um dos homens sério, colocando um rádio na cintura.
— Então vamos. Não posso perder mais tempo — afirma a mulher que anda de postura imponente.
Parada mais à frente, há uma Mercedes preta quatro portas que possui correntes nas rodas, isso para evitar o derrape dos pneus no gelo. Já o motorista vendo Lady Parker se aproximar, abre a porta de trás para que ela entre. O carro sai.
Os dois homens a seguem em outro veículo.
Vinte minutos se passam, a Mercedes e o outro carro estacionam ao lado de uma linda e modesta capela construída toda em tijolos vermelhos, telhado cinza e tendo três pares de janelas com vidros coloridos. Próximo dali, há um lago congelado e muitas árvores.
Após o motorista abrir a porta para Lady Parker sair, ela, com um olhar sério, caminha sobre a neve a passos firmes, indo para trás da capela, onde vê o trator e cerca de vinte homens, alguns estando muito bem armados.
Lady Parker sem dirigir a palavra a mais ninguém, se aproxima de uma lindíssima estátua esculpida em mármore branco de 3 metros, que tem formas delicadas do que aparenta ser uma mulher, mas trata-se de um anjo. A escultura está de pé e tem como vestimenta uma toga. Suas mãos se encontram unidas por um toque de palmas, servindo de recosto para o seu rosto piedoso. Já a forma do cabelo é ondulado e está semi preso. Por último, as grandes asas estão fechadas.
Sob o monumento, há um pedestal também em mármore, só que cinza. Ele mede 1m 30 cm de altura, por 50 cm de largura, e nele possui uma placa em bronze com o seguinte nome em latim: “Angelu Secretum”, ou traduzindo, “Anjo Secreto”, seguido da frase também em latim, “Prudens in loquendo est tardus.”, que significa, “Bom saber é o calar, até ser tempo de falar”.
Com a mão direita, Lady Parker toca delicadamente no pedestal como se fosse uma relíquia inestimada. Tal ato deixa explícita em sua face um discretíssimo sorriso — um semblante de personalidade duvidosa, envolto por um olhar de mistério que se fixa num pensamento... o desejo.
Então a dama franzi as sobrancelhas, começa a dar passos para trás, e sem delongas, dá a ordem: — Destruam-na.
Um dos homens que está mais próximo da Lady, comunica-se pelo rádio com o rapaz do trator, que o liga. A enorme máquina segue e atinge a estátua, tombando-a. Na sequência, o mesmo acontece com o pedestal.
Vários operários, com marretas em mãos, iniciam a destruição, mas é por dentro do pedestal que há um segredo guardado.
Aos olhos curiosos dos trabalhadores, observa-se uma urna de prata de 1m de altura, por 30 cm de largura surgir.
Os operários se afastam para que Lady Parker se aproxime. Ela se agacha perante a urna e destrava as duas trincas, ao mesmo tempo, escuta-se o estalar das travas. Sutilmente, a tampa se ergue, que para a nossa total surpresa, é um esqueleto de aparência humana, só que desmontado. Em seguida, a dama fecha a urna, e ao ficar de pé, se vira para os homens e diz: — Carreguem-na.
Após a ordem, a misteriosa mulher retorna para a Mercedes com sua postura imponente.
Londres, Inglaterra, 14 de Abril de 2009.
Em Exhibition Road, Kensington, à frente do Museu de História Natural, acontece uma grande manifestação — pessoas protestam por não poderem adentrar ao edifício, pois são impedidas por uma barricada de seguranças mal encarados e fortemente armados. Mas não é tudo, há uma aglomeração de religiosos extremistas que gritam: — IT IS THE END OF THE WORLD! IT IS THE END OF THE WORLD! (É o fim do mundo!). Eles seguram placas e faixas mencionando trechos da Bíblia, sendo mais específico, do livro do Apocalipse. Podemos ver também gente ajoelhada rezando para si e outras que rezam em voz alta, tumultuando ainda mais o ambiente, tornando-o muito tenso.
No céu, um helicóptero policial faz o patrulhamento da área, e no telhado do museu, se veem vários atiradores de elite com a mira voltada para a multidão. Mas não para por ai, os olhos do mundo estão voltados para esta localidade através das equipes de reportagens que acampam e registram tudo.
Em meio ao holocausto, observa-se cair um jornal das mãos de um senhor de idade, onde na primeira página há uma reportagem com Lady Parker tendo o seguinte título: “Eles estão entre nós ou não?”, e antes mesmo que o vento pudesse carregar o papel, pneus de um Audi RS6 Sedan preto, quatro portas, passam por cima da matéria.
O automóvel se locomove devagar, cerca de 30 km/h, por conta das diversas pessoas, que histéricas, tentam impedir a passagem do Audi. Porém, os seguranças entram em ação tentando conter a população com tiros de bala de borracha, só que um manifestante mais ousado, se joga à frente do capô, e esse, apanha com cacetete.
O carro para na entrada principal do museu. O motorista abre a porta de trás e quem vemos sair, com uma expressão impassiva, é Lady Parker. Ela veste uma saia social preta até o joelho, blusa de seda social lilás e sapatos de salto fino preto. Em seu pulso direito, há um grande bracelete prateado. Escoltando-na, os seguranças abrem caminho contra as pessoas na escadaria e a misteriosa mulher sobe a passos rápidos.
De dentro do museu sai a antropóloga forense, Dra. ANGELICA THOMPSON WILLIAMS, 40 anos, branca, cabelo loiro e liso preso em rabo-de-cavalo e olhos azul-mar. Ela veste calça social, blusa social de seda e sandálias de salto, tudo na cor preta. E também está de jaleco branca, que tem preso, a altura do peito, um crachá de identificação.
Lady Parker e Angelica se abraçam como velhas conhecidas que são, no entanto, mal conseguem esboçar um sorriso. As duas adentram ao museu para fugir do assédio do público e da mídia.
Receosa, Lady Parker pergunta: — Angelica, e o esqueleto?
A antropóloga com descrença no olhar, responde: — Quando você me disse achei que estava ficando louca... mas tenho que admitir, ele possui asas.
*Caído: Termo utilizado para definir anjos que foram expulsos do Céu.
Continua…
Todos os direitos reservado a Ludmila Dias e Rafael Bento.